E ela olhava para o rosto no espelho. Tanta coisa mudara.
E ela olhava a alma no espelho. Muita coisa continuava do mesmo jeito.
É como se o tempo tivesse passado, é como se os outros olhassem para ela e não achassem que aquela criança era a mesma pessoa que aquela mulher. Mas ali, parada diante do espelho ela sabia que era a mesma.
Que seus medos não mudaram, nem seus sonhos.
Talvez tivesse crescido em alguns aspectos, tanta coisa a vida lhe ensinara. Mas é como se esses valores não levassem dela a infância.
Suas dores talvez fossem diferentes, mas não eram maiores. Eram dores ainda. Com a mesma intensidade, mesmo sem que fossem as mesmas circunstâncias.
Sentia falta de coisas que não deveria.
Mas que deixasse estar. O espelho lhe mostraria o caminho para o coração. Ela olharia através dele, mas entenderia que ainda assim era a mesma. Talvez deixara os interesses de menina para trás, mas não deixara para trás sua essência, a inocência que aplaina o caminho.
E um dia, quem sabe, ela perceberia que não é necessário o espelho. Porque no final das contas ela descobriria que o espelho mostra apenas uma parte de quem somos, a outra, a gente sente.