Sentidos - Laís Schwarz

De repente, uma vontade de escrever.
Mais uma vez, sobre não sei o quê.

Talvez tenha sido aquela estrela, lá... Perdendo o sentido, escurecendo.
Ah! Sim! Certamente, foi ela!

Andava sem palavras, sem tempo. Mas gosto quando elas chegam assim, de uma hora pra outra, sem avisar.
(Por quê será que tenho essa paixão por elas, é um tipo de amor que não consigo esquecer.)

Talvez porque só ela consiga expressar novos sentidos.

Sentidos que me fazem perceber que muito já mudou. Coisas que antes eram banais.

Certas coisas com o passar do tempo perdem o valor, outras coisas ganham mais e mais valor. Vai entender.

Mas foi aquela estrela, eu sei.

Ela me sentiu, invadiu meu espírito, ela me ganhou. Dominou os meus sentidos, me inspirou. Como se fosse uma espécie de inspiração que surge com palavras, prazer, palavras.

Ela é toda oculta, misteriosa. Eu reparei pela janela. Ela não sorri, não chora. Ela não fala, não se cala. Não brilha, tampouco se apaga. Mas ela inspira. Ah! Se inspira.

Sentimentos são coisas impalpáveis, e pra mim, um ser humano comum, as estrelas também. Deve ser por isso que ela parecia sentimento, e não estrela.

Arrepios são coisas de amantes. Inspirações são coisas do amor. Surgem.

Surgem como a noite surge, como o dia surge. Surge como a sede surge, como a fome surge. Como o cheiro surge, e a chuva surge. Ela surge assim, como uma frente fria, uma necessidade impalpável. Surge assim como uma força, um sonho. Daqueles sonhos que surgem.

Eu só observei, ali da janela. Ela estava lá, como se quisesse me dizer algo. Como se quisesse que eu percebesse que ela observava. Será que reprovava? Será que me compreendia? Surgia.

Dias corridos. Inspiração ligeira.

Mais um rascunho.

Deve ser a tal estrela. Ela não me agradeceu, não agradeci à ela. Simplesmente a entendi. Será que era isso que ela queria mesmo dizer?

Olavo Bilac a poderia entender, eu poderia a entender se não estivesse vagando em outros sentimentos, em outros pensamentos. Mas não entendi. Não ouvi. Mas senti.

Senti o vazio que havia, o brilho fosco. A solidão. Incompreendi, talvez, porque não quisesse compreender.

Afinal de contas, havia o céu para eu observar, e havia uma lua. Uma lua quase cheia, meio crescente.

Talvez não tenha sido a estrela, talvez tenha sido a lua.

Talvez tenha sido aquela lua, lá... Perdendo o sentido, escurecendo.
Ah! Sim! Certamente, foi ela!