2/23/2009

Poesia para o dia - Laís Schwarz (EU! =P)




O bom mesmo é fazer poesia para o dia
Para o que aparentemente é normal
Para o insano, o contente, o simples
Bom mesmo é fazer poesia sobre a vida

Sobre as pessoas que passam por nós a cada novo dia
Sobre as nuvens que vivem mudando de lugar no céu azul
Sobre a música que nos traz um sentimento novo cada vez que é ouvida
Sobre o vento que não tem medo de bagunçar nosso cabelo

Bom mesmo é fazer poesia sobre o sorriso, sobre o choro, sobre sonhos
Bom mesmo é falar sobre a birra da criança
Bom mesmo é falar sobre a macarronada quentinha
Sobre a Coca-Cola no fim de semana

Não sei o porquê de as pessoas viverem fazendo poesia sobre nostalgia
Quando cada simples ato esconde milhares de segredos
Quando cada simples beijo esconde turbilhões de desejos

É tão mais bonito falar sobre as flores
Falar sobre as árvores
Falar sobre os pés, as mãos, os cabelos, as bocas
É tão mais bonito falar sobre buscas

Poesia montada
Poesia contada
Não exala sentimento
É poesia jogada fora

O bom mesmo é aquela poesia que fala com você
Que escorre pelos seus olhos
A poesia que é construída com experiências reais de vida
A poesia que você conhece, melhor do que o próprio poeta

Muito melhor é falar dos filhos, dos netos, dos pais
Do que dos amores do poeta que eu nunca conhecerei
Muito melhor é falar sobre o sol, a lua, o mar
Do que dos gostos exauridos de um poeta perdido

Porque poeta não é quem poetiza as palavras
Poeta é quem poetiza a vida.

2/20/2009

A Azia Presidencial

O Diretor-Executivo de Jornalismo da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel enviou o seguinte comentário à revista piauí sobre a reportagem "Azia, ou o dia da caça" (piauí_28, janeiro 2009) em que o Presidente Lula discorre sobre o fato de a imprensa lhe causar azia:

"Na reportagem 'Azia, ou o dia da caça', o presidente Lula diz ter um ressentimento profundo em relação a cobertura das eleições de 2006 realizada pela TV Globo. O autor da matéria assim interpretou as razões desse ressentimento: 'Na véspera do primeiro turno, o Jornal Nacional exibiu imagen de montes de dinheiro apreendidos pela Polícia Federal, com petistas que tentavam compre um dossiê falso contra José Serra. No governo e no PT, atribui-se a necessidade do segundo turno a essa reportagem.'
Se as fotos são motivo, a TV Globo lamenta o ressentimento do presidente, mas se orgulha da cobertura que fez. Divulgar aquelas fotos era uma obrigação jornalística que a Globo cumpriu segundo todos os preceitos éticos. As mesmas fotos, com igual destaque, foram também divulgadas pelos telejornais concorrentes, no mesmo dia, em ediçòes que antecederam ao Jornal Nacional. Também a imprensa escrita deu enorme destaque äs fotos em suas primeiras páginas.
Numa campanha eleitoral acidentada pode ser desagradácel ver publicadas as fotos de maços de dinheiro usados atabalhoadamente por correligionários que, contra a vontade do candidato, tentam métodos heteódoxos para vencer. Pode dar azia. Mas a imprensa não é correligionária. Ela não é amiga. Não pode ser. A ela cabe apenas noticiar, sem se importar minimamente com o efeito eleitoraldas notícias nas diversas campanhas. A imprensa de qualidade age assim. Sempre. E não perde o sono, não sente azia, não guarda ressentimentos.
No fim, o povo, bem informado, decide e forma opinião livremente, num ritual em que uma eleição pode ir além de um primeiro turno, levada pelos fatos e pelas notícias, mas nunca pelos menageiros, pelos veículos. Estes, ao continuar noticiando e ao dar a todos o direito de falar, de explicar e de debater, propiciam que vença aquele que melhor convence, muitas vezes uma vitória larga a ponto de curar azia.
Depois de tantos anos, o que causa surpresa é uma abiguidade do presidente: quando, em solenidades públicas cujo tema é a imprensa, faz elogios protocolares ao pael do jornalismo, mas fala mal dele sempre que os fatos noticiados não sÃo do seu agrado. Tal comportamento pode levar à interpretação de que o presidente teria gostoi por uma imprensa dócil, numa época em que todo democrata, como ele, sabe que o papel da imprensa não é nem ser dócil nem ser hostil, mas veraz."

Precisa dizer mais alguma coisa?

2/14/2009

Para viver um grande amor- Vinícius de Moraes


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.


Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.


Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.


Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.


Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.


Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.


Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.


É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...


Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?


"Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor.


Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.


É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.


Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor."


2/05/2009

Via Láctea- Olavo Bilac [XIII]


"'Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!' E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...


E conversamos toda noite, enquanto

A Via Láctea, como um pálido aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: 'Tresloucado amigo!

Que conversa com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?'


E eu vos direi: 'Amai para entendê-las

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.'"

2/03/2009

Primeiro dia de aula


Como deixaria de narrar aqui meu primeiro dia de aula? Descartando o fato de eu morar a exatamente 2 horas da minha faculdade, o resto está ok.
Saí de Campo Verde às 4 horas da tarde. Arrumadinha, com uma bolsa enorme no braço, um travesseiro maior ainda e minha disposição. Entrei no ônibus, nenhum rosto conhecido, até então. Quando enfim, o ônibus pára na frente do Supermercado Ponto Sul, vejo entrar no ônibus uma quantida imensurável de gente [isso porque ainda não começaram as aulas em todas as faculdades, apenas na UNIC.] Pessoas que eu não conversava havia anos. Todos ali. Conversamos, rimos. Saímos de Campo Verde. Ouço no fundo uma música sertaneja, que começa a ficar mais e mais alta. Quando olho para frente, na televisão está passando o show de uma dupla sertaneja, que por mais que eu tente lembrar o nome fica difícil. O som vai aumentando, a um ponto impossível de se aguentar. Olho pro lado, a estrada passando. Resolvi tomar o remédio, antes que começasse a ficar enjoada e vomitar na galera. Tomei sem água, indisposição total para buscar a água lá no fim do corredor. Resultado: Remédio entalado no meio da garganta, daqueles que você fica sentindo durante horas.
Coloquei meu mp4 nos ouvidos. MP4 estragado. Peguei o MP3 reserva, à pilha, com pouca música, graças à minha tia que o comprou pra mim. Serviu pra alguma coisa. Pra muita coisa.
No meio do caminho o cara grita: - Uma carreta derrapou na estrada! Tão tirando o petróleo da pista.
Dei aquela olhadinha pra um veterano de ônibus, que respondeu com um largo sorriso:
-Ih! Relaxa que isso é normal.

Graças a Deus, quando passamos pelo local do derrapamento o petróleo não estava mais lá e a pista estava liberada, não nos atrasamos. Chegamos 6:50 na faculdade. Eu estava perdida, as meninas me acompanharam, dizendo: Tá vendo? Aquele ali é o nosso bloco! O bloco de Direito.
[aquela leve vaidade da um pulo em mim] Leve, hein!

Cheguei na sala, aquele gelo. Não apenas o gelo do ar condicionado, mas principalmente aquele gelo, ahn... como eu posso dizer? Gelo emocional. Daqueles que só existe no primeiro dia. Olhei para uma senhora na minha frente, loira, bem maquiada. Dei um leve sorriso. Nada em troca. Professor entra na sala. Fala sobre coisas que até agora eu não consego me lembrar o que eram. Na verdade me lembro até o momento em que ele nos lembra sobre o que irá falar no decorrer do semestre. Depois ele começa a falar de provas, notas, faltas.

Mas uma das coisas mais interessantes, é o meu ima para atrair colegas indesejáveis em sala de aula. O cara com a maior pinta de bêbado, sentado no meio da sala. Já tinha atrapalhado a aula outras vezes, com perguntinhas toscas, daquelas que te faz pensar: O que estou fazendo aqui?- ou talvez, - o que ele está fazendo aqui? Numa faculdade?
Mas enfim, o cara começa a perguntar sobre antecedentes criminais. Perguntou se uma pessoa que vai prestar exame da OAB pode ter antecedentes criminais, mesmo que cumpridos. Pasmem, tremi.

Intervalo, desci pra comer alguma coisa. Sentei num banco, no canto. Sozinha. Abri o livro que estou lendo: Crespúsculo. Exatamente quando Edward sai ao sol. Estonteante de tanto brilho. Comi meu lanche. Subi. Professora de Linguagem Forense. Apresenta sua matéria, e sobre o que estará falando no decorrer do ano. PALAVRA CHAVE: COMUNICAÇÃO.

Saudades.

Ela olha pra mim e diz: Comunicação é tudo.

E a saudade? Fiquei com vontade de, sei lá, perguntar se estudaríamos Berlo, DeFleur. E, exatamente, quando estava pensando nisso, ela vira novamente [mereço?] pra mim e diz:
- Estudaremos, Teoria da Comunicação!

Fiquei tão feliz. Sabe aquela felicidade de se sentir novamente em casa? Sentir confortável? Afinal, eu já conhecia o território não precisava ter medo.

Mas a saudade foi tão infiel. Tantas coisas passaram pela minha cabeça, que quando asssustei já era hora de ir. Nos encontramos na frente da faculdade e ali estava o pessoal. Entrei no ônibus. Havia um menino que mesmo quando todas as luzes apagaram, insistia em não calar a boca. Queria conversar, com a voz no volume mais alto, estéreo e com direito a Home Theater.

Tirei um cochilo de 1 hora. Quando vi já havíamos chegado. Voltamos por outro caminho, mais curto.

Meia noite e meia. Comi, assisti tv [enquanto comia], li a Bíblia, orei e dormi.

E hoje estou aqui, correndo atrás de IED e Linguagem Forense. Agora, não mais por vaidade, por necessidade, talvez.



P.S: Tentei de todas as formas incluir nesse texto algo sobre a entrevista que Lula prestou à revista Piauí, dizendo que a imprensa lhe dá náuseas. Mas a entrevista foi tão elevada, que jamais caberia em um texto tão infantil e sem conhecimento de um primeiro dia de aula.

Poupe-me.