2/20/2009

A Azia Presidencial

O Diretor-Executivo de Jornalismo da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel enviou o seguinte comentário à revista piauí sobre a reportagem "Azia, ou o dia da caça" (piauí_28, janeiro 2009) em que o Presidente Lula discorre sobre o fato de a imprensa lhe causar azia:

"Na reportagem 'Azia, ou o dia da caça', o presidente Lula diz ter um ressentimento profundo em relação a cobertura das eleições de 2006 realizada pela TV Globo. O autor da matéria assim interpretou as razões desse ressentimento: 'Na véspera do primeiro turno, o Jornal Nacional exibiu imagen de montes de dinheiro apreendidos pela Polícia Federal, com petistas que tentavam compre um dossiê falso contra José Serra. No governo e no PT, atribui-se a necessidade do segundo turno a essa reportagem.'
Se as fotos são motivo, a TV Globo lamenta o ressentimento do presidente, mas se orgulha da cobertura que fez. Divulgar aquelas fotos era uma obrigação jornalística que a Globo cumpriu segundo todos os preceitos éticos. As mesmas fotos, com igual destaque, foram também divulgadas pelos telejornais concorrentes, no mesmo dia, em ediçòes que antecederam ao Jornal Nacional. Também a imprensa escrita deu enorme destaque äs fotos em suas primeiras páginas.
Numa campanha eleitoral acidentada pode ser desagradácel ver publicadas as fotos de maços de dinheiro usados atabalhoadamente por correligionários que, contra a vontade do candidato, tentam métodos heteódoxos para vencer. Pode dar azia. Mas a imprensa não é correligionária. Ela não é amiga. Não pode ser. A ela cabe apenas noticiar, sem se importar minimamente com o efeito eleitoraldas notícias nas diversas campanhas. A imprensa de qualidade age assim. Sempre. E não perde o sono, não sente azia, não guarda ressentimentos.
No fim, o povo, bem informado, decide e forma opinião livremente, num ritual em que uma eleição pode ir além de um primeiro turno, levada pelos fatos e pelas notícias, mas nunca pelos menageiros, pelos veículos. Estes, ao continuar noticiando e ao dar a todos o direito de falar, de explicar e de debater, propiciam que vença aquele que melhor convence, muitas vezes uma vitória larga a ponto de curar azia.
Depois de tantos anos, o que causa surpresa é uma abiguidade do presidente: quando, em solenidades públicas cujo tema é a imprensa, faz elogios protocolares ao pael do jornalismo, mas fala mal dele sempre que os fatos noticiados não sÃo do seu agrado. Tal comportamento pode levar à interpretação de que o presidente teria gostoi por uma imprensa dócil, numa época em que todo democrata, como ele, sabe que o papel da imprensa não é nem ser dócil nem ser hostil, mas veraz."

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