Uma dessas situações foi o que me aconteceu há alguns dias atrás.
Me lembro bem quando estudei nessa escola, uma escola que marcou tanto a minha vida.
Parece que foi ontem o tempo em que eu corria atrás de animais no viveiro, plantava verduras na horta.
Parece que foi ontem que a professora nos levou até a cozinha e nos ensinou sobre os estágios da água, dizendo: "Vamos fazer de conta que a vovó deixou o bule no fogão e esqueceu de olhar? O que será que acontecerá com a água?"
Pra mim foi tão belo, porque era novo.
Era novo descobrir e ver plantas crescendo na terra. Era novo pegar em um jabuti (Jajá) e alimentá-lo. Era novo dar nome às árvores do pomar... Conversar com colegas, ler livros que construíram - aos poucos - meu caráter.
Existem coisas na vida da gente que não aprendemos sozinhos, somos seres eternamente dependentes... Dependentes de Deus, de pessoas, de amigos, do ambiente... Eu sei que aprendi tudo o que poderiam me ensinar nessa escola.
Aprendi a dividir (no campo de futebol). Lembro de um lugarzinho, uma casinha (lembranças vagas) de uma casinha ao fundo do campo, a professora nos levou lá... com aqueles blocos de madeira... nos ensinar a somar... levamos o lanche e aprendemos a dividir!
Tive sorte. Tive sorte porque em um mundo tão competitivo, onde escolas parecem pensar em alunos como MATRICULADOS - e não como pessoas - eu aprendi o que era ser e sentir-se importante.
Aprendi valores... valores de vida... e isso não tem dinheiro que possa tomar de mim.
Não haveria momento melhor a minha vida, do que este que estou vivendo, para escrever sobre tudo isso. É com lágrimas no olhar que me lembro da saudosa infância da minha vida... Onde o quintal era floresta; as sombras, dinossauros; tantas cores, tanta vida, tanta esperança!
Hoje eu desejo... eu desejo que crianças possam entender que não são MAIS UMA nesse mundo tão vasto e grande... Mas sim que são capazes de criar mundos que nenhuma outra pessoa será capaz de criar igual, crianças capazes de sonhar, de ter esperanças, de ter princípios... de aprender o valor das coisas pequenas, da honestidade, do respeito, da paz de espírito.
Eu sei porque dentro de mim ainda carrego esse mundo, esse mundo tão meu, tão lindo, tão digno... tão colorido e úmido... Dentro de mim carrego sonhos, sonhos de criança com lapidações adultas... É tudo misturado mesmo, é tudo diferente e confuso... Mas é aquela confusão boa, aquela confusão acolhedora.
Eu sei que a vida da gente é isso... Essa mistura de tudo um pouco, de criança e adulto, de preto e branco, de coisas ruins e coisas boas, afinal de contas quem é de um jeito só é apático, sem razão de viver... Mas enquanto houver dentro de nós uma criança, entenderemos que a vida é sim ETERNA.
É hora de colorir, de despertar, de converter-se... é hora de sair, de relembrar, de viver!
Confesso que existem coisas na vida da gente tão belas e imprecisas que fica difícil compreender (e não se surpreender), e uma delas começou quando eu percebi que eu era descobridora de coisas minhas, que eu era uma "pequena bandeirante" (desbravadora do meu próprio ser).